Pesquisa comprova atividade antibacteriana e antioxidante do óleo essencial de mirra
Em busca de alternativas para o uso de antibióticos no combate a bactérias patogênicas, uma pesquisa desenvolvida no Câmpus Dois Vizinhos avaliou a capacidade de o óleo essencial de mirra reduzir ou até mesmo matar completamente bactérias de interesse clínico. O estudo “Avaliação da atividade antibacteriana e antioxidante do óleo essencial obtido de Commiphora myrrha (mirra) foi apresentado no XXII Seminário de Iniciação Científica e Tecnológica da UTFPR (Sicite 2017) e escolhido o melhor na categoria pôster da área Educação Física & Saúde.
O trabalho foi desenvolvido pela aluna Gabrielli Vaz Sampaio, do 3º período de Engenharia de Bioprocessos e Biotecnologia do Câmpus Dois Vizinhos, como parte de suas atividades como bolsista CNPq de iniciação científica. A orientação é do professor de Microbiologia Cleverson Busso.
O objetivo da pesquisa foi avaliar a atividade antibacteriana e antioxidante do óleo essencial obtido a partir da resina da planta conhecida como mirra (Commiphora myrrha) e identificar seu potencial para atuar como substância alternativa ou coadjuvante no combate a bactérias patogênicas, especialmente as resistentes às drogas atualmente conhecidas.
Estudos como esse se tornam relevantes à medida que tem se observado o aparecimento de superbugs – superbactérias resistentes a antibióticos – por conta do uso indiscriminado de antibióticos pelo homem e em animais de criação e por causa de mutações espontâneas no DNA bacteriano. “A situação é tão preocupante que em fevereiro de 2017 a Organização Mundial da Saúde publicou um relatório listando 12 bactérias para as quais são necessários urgentemente novos antibióticos”, acrescenta o professor Cleverson Busso. A pesquisa avaliou o efeito do óleo essencial de mirra em uma dessas 12 bactérias, a Pseudomonas aeruginosa, classificada como crítica por apresentar multirresistência a várias drogas e por ser comum em infecções hospitalares, provocando até mesmo meningite em pacientes.
Também foram testadas diferentes concentrações do óleo essencial em outros três microorganismos: Escherichia coli, Staphylococcus aureus e Salmonella enterica. Todas as quatro bactérias foram obtidas da Fundação Oswaldo Cruz.
A técnica consistiu em adicionar sucessivas diluições reduzidas do óleo sobre as bactérias testadas em poços de microplacas e avaliar qual concentração da substância foi suficiente para impedir o crescimento bacteriano e também qual a concentração foi capaz de matar 99,9% dos microrganismos estudados. Através da adição de uma substância específica, foi possível observar em qual concentração houve a morte bacteriana (evidenciada pela coloração amarelada) e onde as bactérias cresceram (cor vermelha).
Os resultados foram comparados com antibióticos conhecidos e mostraram, por exemplo, que o óleo essencial de mirra foi capaz de eliminar 99% da bactéria Staphylococcus aureus em concentrações baixíssimas, como 3,12 µL/mL. “Para se ter uma ideia, o antibiótico gentamicina foi efetivo com a concentração de 0,39 µg/mL”, observa Busso.
Ainda que tenha se apresentado resistente ao antibiótico ampicilina, a bactéria considerada crítica Pseudomonas aeruginosafoi completamente eliminada na concentração de 25 µL/mL do óleo essencial de mirra. “Isto demonstra a importância do estudo de substâncias naturais como coadjuvantes no combate de bactérias resistentes aos antibióticos conhecidos”, avalia o pesquisador. As demais bactérias Escherichia coli e Salmonella enterica também foram completamente eliminadas na concentração de 25 µL/mL do óleo.
Além de apresentar atividade antibacteriana, foi observado que o óleo essencial de mirra é um excelente antioxidante, sendo capaz de eliminar substâncias que causam danos celulares conhecidas como radicais livres. Nesse sentido, o óleo essencial de mirra apresentou atividade antioxidante comparável a outros óleos essenciais, como o de canela, louro e limão. Este resultado específico é de grande interesse principalmente para a indústria de cosméticos.
Exemplo de planta que pode oferecer substâncias alternativas ou coadjuvantes no combate a bactérias, a mirra é oriunda da África e da Arábia e tem sido empregada como planta medicinal há muito tempo. Um de seus usos pelos nossos antepassados é na prática de mumificação pelos egípcios, que utilizavam a resina (seiva) da mirra para retardar o processo de decomposição das múmias.
De acordo com o professor Cleverson Busso, a pesquisa com a Commiphora myrrha vai ter continuidade. “Os próximos passos envolvem o estudo das diferentes moléculas que compõem o óleo essencial de mirra, estendendo-se também os estudos contra fungos patogênicos, como aqueles causadores da candidíase”, informa o pesquisador.
Este artigo é uma réplica de matéria publicada no portal utfpr.edu.