Os encantos a longo prazo da presença paterna: na criança, no pai e no mundo
A clássica cena de filme — que também é clássica em nossas casas: depois de um longo dia de trabalho, a chegada do pai faz a criança pular de alegria. Trazendo novidades do mundo lá fora, ternura tão especial ou só sua boa e velha “presença”, os pais fecham com encanto os dias sempre desbravadores de um novo ser. Às vezes, o gostinho de quero mais pode ser doloroso, mas a compensação no dia seguinte nos ensina a confiar no retorno.
Esse não é um incômodo restrito às crianças. Sabe-se que 74% dos pais acreditam que o tempo gasto no trabalho os impede de exercer a paternidade como gostariam. Os ideais patriarcais ainda vigentes associam a figura paterna ao dever de prover e os distanciam do afeto e da educação. Felizmente, para a maioria dos pais, esse imaginário é desmitificado cada vez que abraçam seus bebês. A quantidade de tempo passado com os filhos — muitas vezes, fora de nosso controle —, no entanto, pode ser compensada pela qualidade.
A participação ativa dos pais é essencial para o desenvolvimento cognitivo e socioemocional das crianças. As mães também representam esse papel, mas os níveis de comunicação e interação de ambos é diferente. Enquanto a união da mãe com o bebê acontece quase involuntariamente já nos primeiros meses de vida, com os pais, essa relação tem que ser desenvolvida.
É a participação constante do pai que ajuda as crianças a se sentirem seguras para expandirem suas experiências pelo mundo. É comum que o pai desafie a criança a ultrapassar seus limites quando um balanço é mais alto, por exemplo. Ao mesmo tempo, ensina sobre justiça enquanto fala sobre regras. A simples presença pode parecer algo pequeno aos olhos adultos, mas as crianças reconhecem o esforço, sentindo-se amada e valorizada.
O toque paterno é necessário em todas as fases e trabalhos inerentes ao processo de criação dos filhos. A corresponsabilidade estimula o empoderamento de mães e meninas e a diminuição da violência contra a mulher, ao ressignificar os papéis tradicionalmente masculinos e ajudar, pouco a pouco, a construir um novo imaginário.
Não são só para os outros os benefícios de uma paternidade positiva, ativa e terna: entregues ao afeto, os próprios pais, desvencilhados de ideais exteriores, tornam-se mais felizes, saudáveis e honestos. É pelo esforço individual e melhora de cada pai por aí que o mundo avança um pouquinho todos os dias.